segunda-feira, 11 de abril de 2011



Talvez, ele merecesse a Terra do Nunca novamente.
Talvez, quem sabe, possa voltar a ser um dos “meninos perdidos”, sem se preocupar com o porvir adulto, que hoje foi sentenciado a ter ciência de como é.
Desejar voltar a habitar a Terra aonde o seu governante vestia-se de trapos, usava um canivete de madeira e sentava-se na mesma mesa, para comerem todos juntos.
Talvez hoje, quando disputa um lugar para apoiar o pé, dentro de uma condução empanturrada, seja digno da liberdade de retomar sensações infantes e saudosas. Digno de lembrar que, na sua vivência por lá, o único concorrente era um homem de uma mão somente e que vivia em um navio.
Quem dera, ele poder voltar ao banquete, e quando hoje, ver o prato vazio poder saciar-se com refeição imaginaria e alimentar seus filhos com esta.
Porém, ele teve que arrumar suas malas, encher os bolsos de realidade e deixar a Terra do Nunca.
Sendo assim, submeteu-se a conhecer um inimigo maior, de gancho invisível com proporção e poder diferente. E, quando ele tomou forma de homem, o gancho, ousando da força, passou como uma foice violenta em sua imaginação, varrendo o restante de menino perdido que se escondia por ali.



Felipe Pauluk




*

5 comentários:

  1. Nós, às vezes, perdemos o menino perdido de dentro da gente. Mas penso eu que ele, de fato, nunca nos abandona. Ele, sozinho, não é forte pra lutar contra o gancho, é apenas sensato e despojado o suficiente pra descansar enquanto o gancho nos domina. Vez ou outra ele acorda... E então nos presenteia com sensações límpidas, desprovidas da timidez dos adultos, da vergonha das leis, da temeridade responsável que nos obriga a botar o pé atrás. Vez ou outra ele acorda, pra nso presentear com textos como esse e as sensações que ele nos provoca.

    Tão lindo quanto a Terra do Nunca de que eu, particularmente e por sorte, consegui saudosamente me lembrar.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom seu texto!! Esse é o meu conto de fadas preferido, quando era menor queria ser como Peter Pan e ser criança para sempre, hoje continuo pensando assim... Você também gosta de Salinger? Ele foi um homem muito incompreendido na época. Eu gosto muito do estilo dele.
    Acho seu calendário um charme! :D
    ;*

    ResponderExcluir
  3. Ótimo referencial! E a foto coube muito bem, balanço de pneu para se balançar a cada linha!

    ResponderExcluir
  4. Arrisco dizer que foi o melhor texto sobre a Terra do Nunca que já li até hoje, pelo simples fato de você ter colocado tanto em evidência essa passagem de criança para o lado adulto, e com ela todas as responsabilidades. Adorei mesmo, lembrei que faz um bom tempo que não visito a minha própria Terra do nunca, mais nunca deixo de relembrar os bons momentos que passei nela, haha.
    Tenha um ótimo feriado prolongado (:

    ResponderExcluir