quinta-feira, 16 de junho de 2011

A arte de causar o efeito viver


Na boca apenas um cigarro dormido e a lingua roçando os dentes separados.
Jack nunca soube se nasceu ou se foi botado. Um solitário menino invadindo perdidamente o campo minado dos adultos. Entregue a libertinagem, desapegado da inocência.
Ele era feio, porém as palavras que abarrotavam sua boca escorria pelos cantos exalando a beleza da juventude. Ele beija a gélida boca da garrafa de vinho vagabundo e sacode involutáriamente as moedas no bolso da jaqueta.
Jack era franzino, porém temido. Sorria para poucos, não devido a soberba, mas devido a timidez. Na meia infância era daqueles pobres garotos suburbanos que, para causar o cessar da vida terrivelmente imposta, debruçava-se diante os livros para estudar o dialeto das comunidades minoritárias da Rússia e assistia incansavelmente "Cidadão Kane". Agora no transitar das mudanças infanto-juvenil suas leituras tomaram outro paladar e outro tempero. De todos os "ismos" que navegara no meio das páginas amareladas dos livros velhos da biblioteca, o do erótico agora lambia seus olhos.
Carregava consigo uma caneta com tampa mastigada e um bloco de anotações.
Na noite fria das ruas quentes, rodeado por seus amigos beat's e abençoado pela luz raquítica de um poste escreveu: "Na boca apenas um cigarro dormido..."



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