sábado, 6 de março de 2010

Crônica - Cachaça

(Por Felipe Pauluk)





Á, lá está ela.
A cachaça de molhado quente. Fervendo invisível no vidro largo do copo limitado. A deletéria embargadora da voz descontrolada.
Arrodelando no balcão de madeira conspurcada a gota excessiva, deixando sua marca de transparência salivante.
Pedi-se a golada saqueadora e ardente na garganta. Calada ela clama ao aflito “botequeiro” um beijo de satisfação bifurca.
O pretexto da matança da sede natural é a aurora da bebedeira frenética.
Um namoro desigual.
O beberrão apaixonado na tontura embriagada e a cachaça amaldiçoada esvaindo-se da garrafa. Ele, sangrando na paixão, renegando seu eu. Ela, libertando sua líquida destilação rumo à ação libertina no cérebro alheio.
Uma paixão oriunda nos “canaviais-meninos”, nos descontentamentos da vida romanceada, no fogo problemático do capital fugitivo e na vida dimanada da juventude baderneira.
Lá está ela, livre, solteira e esperando o desposar do amante desconhecido, mas desejado. Dentro de um copo sugestivo ao afago embriagante.
— O camarada, vê se me trás uma igual aquela do copo no balcão. — Disse eu, após o encantamento.
— Sim. Mas, com licença, ali é somente água. É isso que quer? — Responde o balconista.



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